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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Memória: arquivo escolar

Eu adoro vasculhar os arquivos da memória. Fases gostosas, pessoas maravilhosas, coisas que acreditamos e deixamos de acreditar, ou vice versa, inclusive, aprendizado. Todos fazemos coisas e temos atitudes baseadas no que nos foi transmitido pelos pais, pela família, pelos amigos, pelos professores.
Agora quero abrir o arquivo da escola. Nele relembro alegrias, amizades, ansiedades e nervosismos - esses surgiam principalmente quando o assunto era a lógica dos números. Eu sempre fui mais a lógica das palavras e dos argumentos.
Lembro até hoje o nome da minha primeira professora, do jardim de infância, tia Maria Amélia, da classe amarela, da escola pública Eunice Caldas. Todos queriam estudar lá. Era um playground aberto diariamente. Há alguns anos passava em frente, no horário de saída, e fui até a inspetora de aluno e pedi para entrar rápido, sem demorar.
Impressionante como a perspectiva muda. Aquela escola era meu mundo gigantesco na infância, com um labirinto que eu não entendi como podia me perder de tão pequeno que é, com a casa de bonecas, o play, a piscina. Tudo pequeno, mas com uma enorme recordação carinhosa.
Nesse arquivo da memória de infância escolar, há uma pasta chamada de “o caso da piscina”. Uma lição que me recordo até hoje. Fiquei escondida depois da aula da piscina e não fui embora com a turma. Minutos depois, tia Maria Amélia me acha, manda tomar banho. Eu me visto e sento no banco ao lado da conga à espera dela para dar o laço.
A bronca: Nunca mais se esconda! Respeite o horário, a mim e seus colegas, que não tiveram aula por estar à sua procura! Você só vai para a casa hoje depois de dar o laço na conga!
A lembrança é de desespero total, choro e culpa por ter feito algo errado sabendo que era errado. E, eu não sabia dar laço. Sou canhota e todos que tentavam me ensinar eram destros. Não conseguia imitar os movimentos. Não demorou muito, na época parecia um século, ela retorna, eu peço desculpa, ganho um sermão sobre certo e errado, ela faz o laço e me dá um abraço repleto de ternura. Como é bom recordar isso. Saudade de tudo.
Outra pasta que puxo da memória é a da professora Alice Maria. Ela ganhava o respeito dos alunos de qualquer jeito, sendo uma professora divertida, companheira e ao mesmo tempo exigente. Sei todas as regras de conjunções e acentuações por causa dela, assim como conheço vários poemas decor. Tínhamos que saber. A chamada oral era básica e constante.
Ela dizia seu nome, você ia até a mesa suando, com cólicas. Daí ela começava: vamos lá, conjunção adversativa! Dizia isso tirando os óculos e arregalando os olhos azuis sem piscar enquanto te encarava. (rs)
Alice Maria foi quem despertou a vocação jornalística. Sempre tinha uma redação para fazer, a melhor seria publicada no jornal local. Houve, inclusive, dois jornais feitos pela sala, que valiam nota, eles foram datilografados e rodados no mimeógrafo. Tem adolescente que nem sabe mais o que é um mimeógrafo e olha que não faz tanto tempo. Sei que tenho esses jornais guardados em algum lugar até hoje.
Meus grandes amigos foram conquistados dentro do espaço de uma escola. Eu os preservo perto de mim. A Valéria é uma delas. Eu a conheço há 23 anos. Desculpa por falar o tempo (rs). É a irmã que escolhi, é jornalista também e conquistei na entrada do ginásio.
Saudade desse tempo, quando tudo era mais simples, as responsabilidades não eram grandes. Mas, não penso que seria melhor voltar atrás. Foram todos esses momentos e acontecimentos que fizeram de mim o que sou hoje.
Agora é a sua vez de contar uma história dos bancos escolares. É o dia do professor. Vamos lembrar os que passaram por nossas vidas. Eu sei que você tem. Todos temos.

2 comentários:

  1. Tempos de escola são momentos de vida, onde nos formamos, não só no aprendizado ortodoxo, mas na formação humana. Na escola iniciamos também contato social e a entender a diversidade. Isso não tem preço. Uma das sequelas escolar foi a de conhecer minha amiga-irmã Juliana Augusto, que como podem conferir, é uma excelente jornalista, politizada, cidadã, bom caráter, linda, batalhadora e acima de tudo mulher.

    Viva os tempos da escola...Temos que lutar para que todos os brasileiros tenham essa oportunidade educacional e de vida.

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  2. Amizade é isso. Sou uma sequela, mas ela me adora... hahahahah

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